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coleccionador

João Manuel Valente Pereira Carpinteiro, de seu nome completo, nasceu em Elvas, em Outubro de 1943.
 

Na via considerada pela generalidade das pessoas como a mais extensa do casco urbano, nem mais nem menos que a agora formoseada Rua de Alcamim, - onde os comércios abundam e os residentes cada vez mais escasseiam - aí se situa a casa onde o nosso artista desabrochou para a vida, mais concretamente no número sessenta e um, primeiro, residência de seus já falecidos Pais.

 

Manifestando assinalável precocidade para a fotografia, João Carpinteiro começou a cultivá-la logo a partir dos nove anos, fixando perfis, coisas e motivos que lhe despertavam a atenção, socorrendo-se, para o efeito, de uma modesta máquina de amador com a qual, na sua pouca idade, soube realizar verdadeiras maravilhas.

Enfeitiçante fotografia que se relevou ornamento de um intelecto que desde sempre se mostrou brilhante, agudo e ágil já que, profissionalmente, foi a empresa familiar “Combustíveis do Alto Alentejo” que ocupou a parte mais significativa do tempo, de permeio com a Presidência da Câmara de Elvas, para onde obteve dois mandatos integralmente cumpridos.

 

Não se sentiram minimizados os que fazem da fotografia profissão, se acaso comparados, mesmo em experiências, com João Carpinteiro. Tanto os que trabalham por conta própria como os de loja aberta ou os da imprensa, e ainda os que embora na televisão, também profissionalmente produzem fotografia, nenhum deles se empertigaria ou se suporia de méritos superiores, se alguém o comparasse ao artista que está no centro das nossas atenções.

 

Li, não sei onde, enquanto estudante, uma afirmação que bastante me deu que pensar, procurando sempre encontrar exemplos da sua fundamentação. E vai daí que essa afirmação dizia pouco mais ou menos o seguinte: A arte só é arte na medida em que afirma uma individualidade. Refleti muito, como já disse, sobre esta frase e procurando-lhe fundamento através da matéria de que estou a tratar poder-se-ia concluir: haverá muita gente a produzir fotografia, mas a de João Carpinteiro, por ser diferente e não se poder igualar às demais dos que a ela se dedicam, não se repetindo, sem se guiando por escolas de outros é bem reveladora de um verdadeiro artista: artista porque o que produz (sem interessar que seja melhor ou pior do que o produzido por outros) é diferente e criativo.

Há pois que ver a obra de Carpinteiro, para que os olhos de cada um se deslumbrem e a alma se sinta gratificada pela beleza que ela, momento a momento, releva.

 

Não nos parece despiciendo falar um pouco de muito que já foi exposto em numerosos salões, tanto nacionais como estrangeiros, sempre com a distinção, tanto de prémios como de menções honrosas. Algumas obras voltaram por vontade expressa do inspirado autor, enquanto que outras por lá ficaram, tal a insistência dos promotores de cada uma das iniciativas.

 

João Carpinteiro já teve honras de exposições individuais por mais de uma dezena de vezes, designadamente em Elvas, Évora, Portalegre, Alandroal, Campo Maior, Vila Viçosa e Monforte. Das suas últimas exposições destacaram-se “ Um Olhar Sobre o Património” e uma exposição sobre Alandroal e Juromenha.

 

De autoria é a publicação de várias edições de postais alusivos a Elvas e à sua ancestral monumentalidade, nomeadamente sobre as guaritas que ornamentam a cintura de muralhas e também os baluartes, com início casuístico no do Príncipe passando pelos dos Mosteiros e de Santa Bárbara para, dado o carácter da citação, se terminar no de São João de Deus.

 

Isto sem esquecer temática vária, objeto de exibição e também admiração pelo trabalho desenvolvido. Aconteceu isto em Aveiro, Beja, Bragança, Coimbra, Estremoz, Funchal, Faro, Viana do Castelo e mais um sem número de localidades do território nacional.

 

Do estrangeiro citem-se exposições em Badajoz, Barcelona, Cáceres, Lugo, Mérida, Lobito, Maputo.

 

Não pode passar sem registo a atenção que o nosso autor dedicou a motivos locais como sejam as rendas de papel com que se enfeitam as caixas das nossas celebradas ameixas de Elvas, os doces populares de “Dias dos Santos e Nomeada”, a matança do porco, os passos de Vila Boim e a festa das flores em Campo Maior.

Também como motivos de igual origem não passaram despercebidas a João Carpinteiro as festas dos Hortelões, o nunca esquecido São Mateus e a procissão dos Pendões a ele associado, assim como a etnologia, com material recolhido em todo o espaço campesino que nos rodeia.

Silva Picão escreveu sobre os costumes dos nossos campónios e João Carpinteiro foi retratá-los, fixando-lhes a “copa” e conseguindo entrar-lhes na alma com os seus milagrosos instantâneos.

Com toda esta notoriedade, natural seria que João Carpinteiro visse o seu nome associado a vários núcleos de fotografia, de que damos, como exemplo, o Núcleo Elvense de Fotografia e Cinema Amador, que ajudou a fundar e ainda a qualidade de sócio que adquiriu por convite da Associação de Fotografia e Cinema Amador de Braga e da Associação Fotográfica do Sul, com sede em Évora.

 

O seu espólio fotográfico é enorme, sempre com qualidade e recolhido a partir de 1969/70 peça a peça, todas de incalculável valor.

 

Material colecionado “ad hoc”, ora por iniciativa própria ora por espontânea liberdade de terceiros, dando origem a uma notável coleção que orgulha o seu proprietário e maravilha quem a contempla.

Assim é que à volta de João Carpinteiro e sob a sua tutela, se resumiu um sem número de máquinas de fotografar com antiguidade que, em certos casos, chega aos 100 anos; teleobjetivas de vários formatos e capacidade de utilização; flashes que é difícil contabilizar e assinaláveis e por vezes impensáveis utilidades relacionadas com esta forma de arte.

Com todo este espólio, muito do qual a poder ser considerado artístico precisamente porque quem lhe deu forma talvez que não a consiga repetir e ainda com todo o material de fazer fotográfico que João Carpinteiro trouxe ao mundo da arte de fazer fotografia, natural seria que lhe nascesse na mente a ideia de a acantonarem espaço público para que todos a pudessem admirar.

 

E espaço em Elvas para tal? Pouco levou a ser conseguida solução.

 

Quis o acaso que, simultaneamente, Elvas fosse dotada de condições para dar vida a dois espaços que têm na sua índole destino cultural: cinema, teatro, festas associativas, conferências e muitas mais coisas, segundo o querer e a inspiração momentânea de cada um.

Refiro-me, como está bem de ver, ao Cine-Teatro e ao Cinema São Mateus.

Todos se lembrem de como há uns seis anos o primeiro foi restaurado, conferindo-se-lhe rara beleza e funcionalidade como, de igual modo, pela memória de cada um passa a recente transformação e mais-valia acumulada da velha sala de cinema com portas para o Largo Luís de Camões, tendo do seu lado oposto a parte costeira do velho Colégio Jesuíta, onde hoje se albergam as raridades da bibliografia municipal e também, um pouco ao acaso, a nossa museologia.

 

Houve conversações entre João Carpinteiro e o atual Presidente da Câmara.

Em tom cordato e construtivo. Rondão Almeida conhecia a obra e o amor de João Carpinteiro pela fotografia. Chegou-se a consenso e o espólio e o mais que nasceu dele e da inspiração de João Carpinteiro lá irão para o Museu de Fotografia, aguardando, por um lado, o visitante e, por outro, tudo o que o artista no futuro venha a produzir, digno da sua rubrica.

 

Com um sensibilizado e amigo abraço do

 

António Tello Barradas

Elvas, Junho de 2002

 

 

 

 

António Gedeão, no seu poema – Pedra Filosofal – escreveu:

 

“ e sempre que o homem sonha o mundo pula e avança! ”

 

Ora, hoje que estamos a festejar o décimo aniversário da concretização de um sonho de criança, - um Museu – que o Homem em que “essa criança” se tornou, conseguiu criar e manter com um sacrifício quase inenarrável da sua vida pessoal, alegra-nos o coração poder repetir com profundo encanto esse verdadeiro e belo verso do Poeta:

 

“ e sempre que o homem sonha o mundo pula e avança ”

 

Estamos frente a um património resultante do amealhar paciente, de uma preciosa coleção de máquinas fotográficas e de todo um mundo de aparelhagem e documentação ligadas à história e evolução da fotografia, que constituem o notável acervo deste museu que, o seu proprietário, João Carpinteiro, colecionou ao longo de toda a sua vida e que, como homenagem póstuma a sua Mãe, fez inaugurar num dia 15 de Novembro data, que era, do seu aniversário.

 

“ e sempre que o homem sonha o mundo pula e avança ”

 

Vão dez anos depois que a Fundação João Carpinteiro com a Câmara de Elvas, que lhe dá apoio e, o aconchego do elegante espaço das suas instalações, enriqueceram a nossa Nobre Cidade, e, como tal, o País, e todos os visitantes, de qualquer nacionalidade, abrindo ao público: o Museu Municipal de Fotografia João Carpinteiro. De lamentar, apenas que o seu acesso que parecia lógico ser pela larga portada do Largo Luís de Camões se faça por uma espécie de túnel, meio escondido que não o torna tão visível quanto o seu valor merece, nem disponha como qualquer outro museu, sempre dispõe, com evidência nas suas instalações de uma biografia do seu criador.

 

Pequenos pormenores que o tempo ainda pode compor, pois, Roma e Pavia, não se fizeram num dia…

 

Foram-me pedidas umas palavras de apresentação. Foram estas que a minha consciência de utente deste espaço onde o amor à cultura se patenteia em cada dia, como se pode reconhecer pelo seu historial, me ditou.

Resta-me repetir o que julgo estar implícito no que escrevi.

 

Parabéns!

Muitos, Muitos Parabéns!

 

E, muito, muito obrigada a todos quanto fazem

“PULAR E AVANÇAR O MUNDO CONCRETIZANDO OS SEUS SONHOS”

 

Maria José Rijo

 

 

 

 

Parabéns,

 

Museu Municipal da Fotografia João Carpinteiro – Elvas pelo seu 11º Aniversário

 

Era uma vez um menino. Um menino grande. O menino João Carpinteiro, vindo da cidade raiana de Elvas para frequentar em Évora o novo curso de “Ciências Empresariais”, como se chamava então. Não era mais do que um curso de gestão empresarial com enfoque sociológico.

Ele e eu, caminheiros desconhecidos em busca de um futuro, nos cruzámos na promissora e neófita escola Instituto Superior Económico e Social de Évora, que seria prelúdio de reabertura da velha e tão prestigiosa Universidade de Évora.

Como acontece muitas vezes no âmago relacional dos pequenos grupos, os meandros misteriosos da empatia nos aproximaram e, além de colegas de curso, nos tornaram companheiros e amigos de todos os dias.

A breve trecho nos apercebemos que tínhamos em comum uma grande paixão.

O gosto pela fotografia e a sede de aprisionar as imagens de tantas coisas novas e interessantes que a nova cidade nos oferecia.

As nossas máquinas fotográficas residiam ao lado dos livros e sebentas nas nossas digressões pela cidade.

Não foi fácil constatar que a sua ocupação extra -escolar principal e preferida era colecionar máquinas fotográficas e todos os apetrechos relacionados com as máquinas e com a fotografia.

Tal como eu, também improvisava em sua casa uma pequena câmara escura onde, com equipamento simples, revelava os seus filmes e ampliava as suas fotografias em papel semi - mate que era o seu preferido e, por coincidência, também o meu.

Com o viço crescente de tão grande entusiasmo, o João reuniu um acervo tão grande de material fotográfico, que apenas metade dele foi suficiente para rechear este museu.

Os anos passaram, os nossos cursos chegaram ao fim e, aí, as nossas vidas seguiram rumos distantes.

Passados muitos anos, só em 2006, é que soube que o meu amigo e colega tinha fundado o museu com o seu nome.

Reencontrámos e retomámos o nosso convívio amigo e as nossas digressões fotográficas. Só que desta vez enriquecidas pela companhia das nossas mulheres e companheiras.

De realçar a valiosa, integral e exclusiva dedicação ao museu não só de João Carpinteiro que o fundou, mas também de sua mulher Isabel, ambos a título gratuito.

 

 

 

Só com esta dedicação e o grande apoio que a Edilidade Elvense tem dispensado ao museu, tem sido possível manter o museu aberto ao público e aos artistas que ali expõem as suas obras. Todavia, mais alguns apoios diminuíram as imensas dificuldades de percurso.

Não é demais evidenciar a grande importância cultural do museu para Elvas, levando-a aos quatro cantos do mundo, mas também para a região e para Portugal.

Assume extrema importância a atividade que envolve em inúmeras exposições, ao longo do ano, de fotografia e outras artes, mas ainda pelo testemunho da história da fotografia e sua evolução, patentes no acervo exposto.

De salientar o acolhimento que é dado a todos os artistas em especial os que se iniciam no mundo da arte e que muitas vezes vêem expostos pela primeira vez os seus trabalhos, quer coletiva quer individualmente.

O museu é visitado anualmente por milhares de pessoas, tanto nacionais como estrangeiros.

Por todas as razões expostas e como recompensa de tanta dedicação e esforço, o museu que hoje faz onze anos merece todos os apoios de que necessita para continuar bem vivo e ativo e, comemorar muitas mais Primaveras.

Apesar de todas as vicissitudes passadas, algo continua imutável: - para a população mais idosa da cidade de Elvas, o “menino grande” que eu conheci há 35 anos (pois tem mais um palmo do que eu), continua, com um carinho visível, a ser o “menino João” que a cidade viu crescer.

 

Évora, 15 de Novembro de 2014

Manuel António Primo Jaleco

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